Exposição "NO CORAÇÃO DO TEATRO"
Pintura de Nuno David
Brinquedos e marionetas de Hélder Esdras
PROLONGADA ATÉ AO DIA 10 NOVEMBRO
Jornadas Europeias do Património 2020
ROTEIRO GRÁFICO
2 Sessões- 1ª-10h00/2ª-11h00
Visita desenhada que
proporciona às suas crianças uma visita diferente ao MAEDS, em segurança,
deixando-as surpreender-se com a cultura material exposta e inquirir sobre o que
lhes causar estranheza, curiosidade, emoção…
Público-alvo: 6-13 anos
(número máximo de participantes: 5 por sessão)
2 Sessões- 1ª-10h00/2ª-11h00
Visita à exposição "No Coração do Teatro" e experiências de expressão visual com o pintor Nuno David.
Público-alvo: Adolescentes e adultos (número máximo de participantes: 5 por sessão)
DESCOBRINDO O BRINQUEDO
2 Sessões- 1ª-15h00/2ª-16h00
Sessão animada com o colecionador de brinquedos Hélder Esdras e construção de marionetas.
Público-alvo: 6-13 anos (número máximo de participantes: 5 por sessão)
PARTICIPAÇÃO GRATUITA, MAS SUJEITA A INSCRIÇÃO PRÉVIA ATRAVÉS DOS SEGUINTES CONTACTOS: 265239365/939553004
MAEDS@AMRS.PT
Abertura das novas exposições temporárias no MAEDS
No dia 25 de Julho abriram duas novas exposições temporárias no MAEDS: "Embodying the landscape", por Rosa Nunes e "No coração do teatro", com pinturas de Nuno David e brinquedos e marionetas da colecção de Hélder Esdras. Estas exposições ficam patentes até ao dia 24 de Outubro de 2020. A entrada é livre, no horário habitual do MAEDS.
Foto de Alex Gandum
Foto de Alex Gandum
Foto de Alex Gandum
Foto de Alex Gandum
Foto de Alex Gandum
Foto de Alex Gandum
O MAEDS no âmbito das parcerias que desenvolve com as
Escolas da Região, divulga os dois últimos trabalhos de estágio sobre o
património cultural, desenvolvidos em grande parte durante o período de
confinamento da pandemia, por David Lopes e João Lavrador, alunos da Escola Secundária D.
João II.
David Lopes
João Lavrador
Dentro do horário habitual, o MAEDS reabre as portas ao público,
com as necessárias medidas de segurança que todos temos de seguir para bem da
saúde pública.
Se ainda não conhece o museu, venha descobrir as origens e
evolução humana no território do distrito de Setúbal.
Se frequenta habitualmente o museu, venha visitar a exposição
temporária “Festas de Nossa Senhora de Tróia” com visionamento de um vídeo de
Renato Monteiro.
Esta exposição será encerrada no final de Junho.
Esperamos por si.
PEÇA DA SEMANA
Deixámos para o final da rubrica Peça da Semana, que agora termina com a abertura do MAEDS no
próximo dia 2 de Junho, um objecto não estandardizado, de cunho muito pessoal e
execução naif cuja real decifração
ficará talvez para sempre no domínio das hipóteses, face à impossibilidade de
aceder aos códigos de representação gráfica de um presumível legionário,
provavelmente hispano, que estacionou em caserna do fortim romano-republicano
de Chibanes, mais propriamente no Compartimento T16, algures entre 110 e 72 a.
C. (C.3B). Abandonado ou perdido, este pendente havia sido gravado com estilete
ou punção metálico de ponta romba em ambas as faces de pequeno seixo rolado com
perfuração bicónica destinada à sua suspensão. No anverso existe a
representação de um feixe de elementos que irradiam de um ponto central o qual,
em termos gerais, nos sugere padrão iconográfico de escudo romano. No reverso
parece existir a representação, muito esquemática, de pequena embarcação de
vela latina. Em ambas as composições parecem ter sido incluídos como elementos
decorativos (?) caracteres de línguas paleo-hispânicas, ainda em estudo pelo
Prof. José
António Corrêa da Universidade de Sevilha.
Mas que caminhos terá percorrido este legionário antes de chegar
a Chibanes? Foi então necessário atender à natureza petrográfica do suporte. O
Prof. Paulo
Emanuel Fonseca, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, admitiu tratar-se de um xisto grafitoso da
formação do Paraíso da
zona de Aljustrel, antiga Vipasca. Um percurso de Vipasca a Chibanes passando
por Salacia adquire verosimilhança.
A biografia dos objectos contém a biografia dos seus fazedores
para lá da ambiguidade dos símbolos.
For
this weeks museum “Piece of the week” rubric, which now ends with the opening
of MAEDS on the next 2nd of June, we bring you a non-standard object, with a
very personal mark and a naïf style execution whose real interpretation may
always stay in the domain of the hypothesis, due to the impossibility of
accessing the codes of graphic representation of a presumed legionary, probably
Hispanic, who was established at the Roman republican fortified camp of
Chibanes. This finding was collected in the residential area of the military
camp, more specifically in the T16 compartment, which layer 3B had been dated
between 110 and 72 BC. Abandoned or lost, this pendant was engraved with a
blunt tip stylus or metal punch at the two faces of this small pebble with a
biconic perforation intended for its suspension. At the obverse there is a
representation of a set of elements that radiate from a central point that
suggests an iconographic pattern of the Roman shield. On the other side
(reverse) there seems to be a very schematic representation of a Roman sailing
vessel. In both compositions, paleo-hispanic characters seem to have been
introduced, probably with a purely decorative character, although they are
being studied by Prof. José António Correa from the University of Seville.
But
what paths did this legionary take before arriving in Chibanes? It was then
necessary to take in account the petrographic nature of the support. Prof.
Paulo Emanuel Fonseca, from the Faculty of Sciences of the University of
Lisbon, admitted that this was a graphite schist from the Paraíso geological
formation in the Aljustrel area, near to the formerly Vipasca roman mines. A
journey from Vipasca to Chibanes passing through Salacia acquires
verisimilitude. The biography of objects contains the biography of their
creators beyond the ambiguity of its symbols.
Soares,
J.; Tavares da Silva, C.; Duarte, S.; Pereira, T. R.; Sorìa, V. (2019) -
Aspectos da presença militar romano-republicana no Castro de Chibanes (Palmela).
Revista Portuguesa de Arqueologia,
22, p. 70-93.
Tavares
da Silva, C.; Soares, J.; Duarte, S.; Pereira, T. R.; Coelho-Soares, A.; Sorìa,
V. (2019) - Castro de Chibanes (Palmela). Trabalhos arqueológicos de 2012 a
2017. In J. Soares, I. V. Pinto, C. Tavares da Silva (coord.), Do Paleolítico ao Período Romano
Republicano. Actas do IX Encontro do Sudoeste Peninsular (Setúbal Arqueológica,
18), p. 215-246.
PEÇA DA SEMANA
Vasos funerários da Idade do Bronze
médio.
Meados do 2º milénio BC
Necrópoles de cistas da região de
Sines
Os recipientes cerâmicos
representados foram encontrados nas escavações arqueológicas de necrópoles de
cistas da região de Sines. As peças de colo estrangulado imitam modelos
metálicos e acompanhavam os mortos de elevado estatuto social, depositados em decúbito
lateral e posição flectida dentro de
caixas pétreas, onde a terra supostamente não entraria, protegidas por tumulus e agregadas em cemitérios. Estes recipientes integram-se na
chamada Cultura do Bronze do Sudoeste que se desenvolveu no Sul de Portugal, na
Andaluzia e Extremadura espanhola. Aqueles contentores funerários são datados
de meados e terceiro quartel do 2º milénio BC (1500-1250 cal BC) e correspondem
a uma fase de retoma do desenvolvimento demográfico, económico e social do
Sudoeste da Península Ibérica, após a crise da Idade do Bronze antigo, em que
esta região terá estado submetida a exploração pelo Estado de El Argar.
Exploração que acabaria por cessar com o colapso daquele centro de poder e pela
emergência das suas antigas periferias.
Funerary pottery of the Middle
Bronze Age
Mid 2nd millennium BC
Cist necropolis of the Sines region
The ceramic
containers represented were found in the archaeological excavations of several cist necropolis in the region
of Sines. Ceramic forms with strangled neck imitate metallic models and accompanied the dead of high social status, deposited in lateral decubitus
and flexed position in stone boxes, where the earth supposedly would not enter,
protected by tumulus and aggregated in cemeteries. This pottery is dated to the
mid and third quarter of the 2nd millennium BC (1500-1250 cal BC), and
integrates the Southwest Bronze Age Culture, which encompassed the South of Portugal, Andalusia
and Spanish Extremadura. The Southwest enters in a phase of economic and social
recovery after the collapse of its strongest
neighbor, the State of El Argar.
J.S.
PEÇA DA SEMANA
VASO DE CERÂMICA IMPRESSA DO NEOLÍTICO ANTIGO (2º quartel do VI milénio BC). VALE PINCEL I (SINES)
Este é o recipiente cerâmico mais antigo encontrado no actual território português. Proveio de uma lareira da macro-aldeia neolítica de Vale Pincel I (Sines), debruçada sobre o Atlântico, e datada por radiocarbono a partir de amostra de carvão de vida curta: Beta-164664 - 6740±40 BP (5720‐5569 cal BC, a 2 sigma). De corpo ovóide e base plana, provido de 2 pegas mamilares perfuradas, apresenta pasta muito grosseira e decoração impressa a punção de extremidade romba, sugerindo sementes de cereal. A acidez do solo não permitiu a conservação de provas directas da agricultura. Porém, o estudo traceológico da utensilagem em sílex comprovou a existência de característicos elementos de foice com lustre de cereal. Escavações dirigidas por Carlos Tavares da Silva e Joaquina Soares.
J.S.
Pre-Cardial pottery with impressed and plastic decoration from the earliest Neolithic Portuguese macro-village located at Vale Pincel I (Sines), facing the Atlantic shore. The fireplace where the recipient was found has been dated by radiocarbon in the 2nd quarter of the VI millennium cal BC. Because of the acidity of the sediments, organic materials were scarcely preserved. However the microscopic analysis of the use-wear traces on flint bladelets revealed many lithic tools used for the harvesting of crops. The archaeological excavations were carried under the direction of Carlos Tavares da Silva and Joaquina Soares.
Bibliografia/bibliography: Tavares da Silva, C.; Soares, J. (2015) - Neolitização da costa sudoeste portuguesa. A cronologia de Vale Pincel I. Actas do 5º Congresso do Neolítico Peninsular. Lisboa: Uniarq, p. 645-659.
Soares, J.; Mazzucco, N.; Clemente-Conte, I. (2016) - The first farming communities in the Southwest European Coast: A traceological approach to the lithic assemblage of Vale Pincel I. Journal of Antropological Archaeology, 41, p. 246-262.
Já se encontra disponível para download a revista
"Setúbal Arqueológica", vol. VI-VII.
PEÇA DA SEMANA
Garrafaria e Sismo de 1755
Recuperadas durante as excavações
arqueológicas realizadas pelo MAEDS em uma casa nobre da Av. Luisa Todi em
Setúbal, as garrafas de vidro, muito provavelmente produzidas na Real Fábrica
de Coina, poderão ter sido destinadas a conter “Água de Inglaterra”, água de
quina muito utilizada nesse período, pelas suas qualidades medicinais. Estes
exemplares e um conjunto notável de outros objectos foram encontrados no silo
da residência, sob os derrubes de paredes do imóvel colapsadas por efeito do
sismo de 1755, o qual causou em Setúbal elevados danos, só comparáveis aos de
Lisboa. O imóvel afectado foi rapidamente reconstruído, havendo documento de
1762 que regista como seu proprietário o cônsul inglês Adolfo Pesch.
J.S.
Glass bottles and the 1755 earthquake
Set of glass
bottles recovered in the excavations of an aristocratic house located on Avenida
Luísa Todi (Setúbal) under the Museum initiative. These bottles most likely
produced at the Coina Royal Factory may have been destined to contain “England
water”, a tonic water with quinine composition that was widely used in that
period, for its medicinal qualities.
These specimens
and a remarkable set of other objects were found in the storage pit of the
residence, under the collapsing walls of the property collapsed due to the 1755
earthquake, which caused high damage in Setúbal, only comparable to those in
Lisbon. The affected property was quickly rebuilt, and we know from a 1762
document that records the English consul Adolfo Pesch as its owner.
O MAEDS disponibiliza um novo tema: DINÂMICAS MUSEOLÓGICAS.
Começamos com o ano de 2019. Aqui poderá consultar as actividades desenvolvidas
pelo museu.
Pode fazer o download aqui: https://bit.ly/3aAXQPI
As
exposições temporárias de 2019 do MAEDS terminaram com "Let me tell you
about...". Um exposição de arte contemporânea que contou com os artistas
convidados: Ana Lima-Netto, Jaime Silva, Maria Gabriel e Rosa Nunes.
Participaram ainda os artistas emergentes e alunos do Atelier Experimental
2018/19 da Sociedade Nacional de Belas Artes: Ana Costa Gomes, Ana Wever,
Antonieta Martinho, António Ventura, Clara Nunes, Dália Rêgo, Eunice Lopes,
Gilda Carmona, Helena Vantache, Ilda Felizardo, Isabel Ceia, Joaquim Silva
Dias, Luísa Freitas, Manuela Ducla Soares, Nani Valente e Rosa Areias. A
exposição foi organizada em parceria com a Sociedade Nacional de Belas Artes e
a curadoria esteve a cargo de Joaquina Soares e Ana Lima-Netto.
O catálogo da exposição pode ser consultado aqui:
Novo artigo disponível
Já pode consultar o artigo "Aspectos
da presença militar romano-republicana no Castro de Chibanes (Palmela)",
dos investigadores Joaquina Soares, Carlos Tavares da Silva, Susana Duarte,
Teresa Rita Pereira e Vincenzo Soria.
Pode
fazer o download aqui:
Catálogos de exposições temporárias 2019
Foi com a exposição temporária de arte
contemporânea “Luz Água” que o MAEDS
iniciou as suas celebrações do Março
Mulher’19.
A exposição, organizada em parceria com
a Galeria Diferença, contou com obras
das artistas Ana Hatherly, Albertina Sousa
(albertina.s.sousa@gmail.com), Irene
Buarque (www.irenebuarque.com), Marta
Caldas (caldas.marta@gmail.com) e Raquel
Melgue (www.raquelmelgue.com).
A mostra sob curadoria de Joaquina Soares e Irene Buarque esteve patente no MAEDS de 23 de março a 30 setembro
de 2019.
Uma visão feminina e solar do mundo,
para uma cidade marítima como Setúbal. Pensada também como homenagem à grande
mulher de cultura Ana Hatherly, tão
bem evocada por André Gomes no célebre Pavão!
Saiba
mais através do seu catálogo aqui:
PEÇA DA SEMANA
LUCERNA ROMANO-REPUBLICANA DE CHIBANES
Lucerna de tradição helenística (tipo G de Ricci/ Dressel
1B), com ampla cronologia (130-30 a.C) e distribuição. Foi encontrada em
Chibanes em um contexto habitacional de c. 70-50 a.C. durante as escavações
arqueológicas aí realizadas pelo MAEDS.
Trata-se de um artefacto indispensável à vida
quotidiana, bem adaptado à tradicional iluminação a azeite mediterrânea. Se no
ambiente doméstico fazia recuar as sombras, também na morte iluminaria o
caminho oculto da grande viagem, integrando pois deposições funerárias.
Embora fabricadas em série, as lucernas
romano-republicanas possuem em geral pasta bem depurada, e motivos decorativos geométricos
no disco que realçam a elegância da forma, como se pode ver no exemplar de
Chibanes, onde ainda se conservam vestígios do verniz negro que revestia as
superfícies externas da peça.
J.S.
ROMAN-REPUBLICAN LAMP FROM CHIBANES
Hellenistic tradition lamp (Ricci
type G/ Dressel 1B), with wide diachrony (130-30 BC) and circulation. This lamp
was found in a residential environment dated between c. 70-50 BC during the
archaeological excavations held by this Museum (MAEDS) at Chibanes (Palmela).
It is a crucial artefact for everyday
life, well adapted to traditional Mediterranean olive oil lighting. If in the
domestic environment it made the shadows recede, in the afterlife it would
enlight the hidden path of the great journey, and doing so is often found in
funerary depositions.
Although manufactured on a large
scale base, the Roman-Republican lamps generally have a well-purified clay and
geometric decorative motifs on the disc that enhance the elegance of the shape,
as can be seen in the Chibanes example, where traces of the original black
gloss still cover the external surfaces of the lamp.
Hoje relembramos a exposição
“Memória e Esquecimento”, das artistas Margarida Lourenço e Rosa Nunes.
A exposição esteve patente no MAEDS entre 16 de Fevereiro e 16 de Março de 2019.
A exposição esteve patente no MAEDS entre 16 de Fevereiro e 16 de Março de 2019.
Sob o tema “Tempo Suspenso”, as
gravuras de Margarida Lourenço (mmargaridalourenco@gmail.com) recriam “a utopia do equilíbrio perfeito e
persistente nas suas belíssimas paisagens, anulando qualquer erosão que a
passagem do tempo pudesse engendrar.”
Rosa Nunes
(https://rosanunesfotografia.weebly.com) faz-nos recuar no tempo através das
suas fotografias intituladas de “Mega-artefactos”, mostrando-nos “a escorrência do tempo e do esquecimento
sobre a ruína de um mega-artefacto.” (Joaquina Soares).
Consulte aqui o desdobrável:
Consulte aqui o desdobrável:
O MAEDS convida-a(o) a revisitar as exposições temporárias de 2019, disponibilizando online os seus catálogos.
Começamos com a exposição "Corona
Borealis. Ticiano revisitado", de Eduardo Carqueijeiro e curadoria de
Joaquina Soares, inaugurada a 29 de Setembro de 2018, e encerrada a 26 de
Janeiro de 2019.
Excerto do texto de Joaquina Soares:
“[...] Eduardo Carqueijeiro constrói em cor e luz um mundo “total” onde
a Memória não se perde, atravessa desvairados tempos, enriquece-se de formas e
significados, de sentimentos e conhecimento. O artista entra no Labirinto e
regressa a Ítaca, digo Museum by the River, guiado pelo código secreto de
Ariadne, e embora possa não ser imediatamente perceptível, do novelo que traz
consigo desprende-se um ténue fio que atravessa a exposição. Podemos ou não
segui-lo. O presente e o futuro escrevem-se em muitas línguas.[...]”
Consulte o catálogo completo aqui: https://bit.ly/2yi2DYG
PEÇA DA SEMANA
ÍDOLO-PLACA DA LAPA DO BUGIO (SESIMBRA).
Neolítico Final
Os ídolo-placa, geralmente de xisto, mais raramente de grés
ou calcário, surgiram no Neolítico final do Centro e Sul de Portugal, em
ambientes, de um modo geral, funerários, há cerca de 5200-5000 anos e
sobreviveram até aos inícios de Calcolítico, há cerca de 4800 anos. A sua
conotação com a morte é evidente, tal como com o sexo feminino da entidade que
representam.
A maioria dos exemplares conhecidos apresenta um carácter
antropomórfico estilizado, cujo corpo se encontra “vestido” por estrutura
têxtil de motivos geométricos diversificados; algumas peças mais evolucionadas
possuem olhos solares. Excepcionalmente, a representação antropomórfica gravada
nestas placas pétreas surge desnuda, com signos atribuídos ao sexo feminino. Na
esmagadora maioria dos exemplares existe no topo um orifício que permitia a sua
suspensão ao pescoço da(o) defunta(o).
Diversas interpretações têm sido propostas para estes
ideoartefactos “icónicos” da Pré-história portuguesa, que não serão aqui
debatidas.
O exemplar apresentado, proveniente de ossuário da Lapa do
Bugio, do Neolítico final, e pertencente ao acervo do MAEDS, apresenta uma
iconografia única. No interior do corpo da divindade feminina, encontra-se
figurado o ídolo almeriense, muito divulgado em contextos coevos do Sudeste da
Península Ibérica, manufacturado frequentemente em placa óssea. Podemos assim
ler neste ídolo-placa uma alusão à maternidade, mas mais ainda, à interacção
entre as costas atlântica e mediterrânea do sul da Ibéria e apreender uma
narrativa que com 5000 anos nos indica ainda caminhos com futuro.
J.S.
ENGRAVED SCHIST PLAQUE OF LAPA DO BUGIO (SESIMBRA)
Late Neolithic
The specimen presented here, from the late Neolithic, with
about 5000 years, has a unique iconography. Inside the body of the female
divinity is the Almerian idol, widely represented in Late Neolithic contexts of
the Iberian Southeast. We can thus read in this artifact an allusion to
motherhood, but even more so, to the interaction of the south of the Iberian
Peninsula coast by coast, from the Atlantic to the Mediterranean. A history of
5000 years ago can, amazingly, indicate a future path.
PEÇA DA SEMANA
CAPITEL DE COLUNA, DE ESTILO CORINTIZANTE, DO SÉCULO II
d.C., DECORADO COM MOTIVOS VEGETALISTAS
Exemplar encontrado em Caetobriga, nas escavações da Rua
Vasco Soveral, 8-12, da iniciativa do MAEDS, sob a direcção de Joaquina Soares,
onde hoje se localiza um alojamento local propriedade da Engª Ana Saraiva
Carvalho. De excelente execução, em calcário beje, possui 22cm de altura. As
suas dimensões são compatíveis com um espaço privado, eventualmente o peristilo
ou o triclinium da domus (“Casa dos Mosaicos”) parcialmente escavada na Rua
António Joaquim Granjo.
As faces laterais do capitel encontram-se decoradas por
quatro palmetas, uma em cada face. A organização é simétrica e com equilibrado
jogo de claros-escuros. A decoração vegetalista, inspirada em ornamentos
helenísticos, observa-se a partir dos séculos I e II d.C. Os exemplares mais
antigos surgiram em Pompeia, geralmente em edifícios privados.
A decoração tem paralelos nos capitéis corintizantes de
Cadafais (Alenquer), Casa dos Bicos (Lisboa) e Santarém, e embora possa ter
sido produzida em oficina da região de Lisboa, que por hipótese abasteceria Felicitas
Iulia Olisipo e território circundante, o capitel corintizante de Setúbal
também pode ser relacionado com fluxos comerciais mais amplos, de oficinas
provinciais do sul da Península Ibérica que por via marítima e fluvial ou por
via terrestre (Olisipo - Caetobriga - Salacia - Ebora - Augusta Emerita)
fizeram circular matérias-primas como mármore de Estremoz ou calcário de
Sintra, presentes na província da Bética em cidades como Itálica e Baelo
Claudia, entre outras. Pelas mesmas vias podem ter sido comercializados cartões
e produtos manufacturados. O valor e apreço pelo capitel da Rua Vasco Soveral
explicam que o seu proprietário o tenha mandado restaurar na parte quebrada de
uma das folhas da coroa inferior, através de pequeno espigão metálico, parte
integrante da biografia da peça.
J.S.
COLUMN CAPITAL, CORINTHIAN STYLE, FROM THE 2nd CENTURY AD,
DECORATED WITH FOLIAGE ORNAMENT
Capital found in Caetobriga (Setúbal), in the excavations of
Rua Vasco Soveral 8-12, under the MAEDS initiative and Joaquina Soares
direction, where today a local accommodation owned by C. Eng. Ana Saraiva
Carvalho is located. With excellent execution, in beige-white limestone, it is
22cm high. Its dimensions are compatible with a private space, possibly the
peristyle or the triclinium of a domus ("Casa dos Mosaicos")
partially excavated on the surrounding area (Rua António Joaquim Granjo).
The lateral faces of the capital are decorated by four
acanthus leaves, one on each side. The organization is symmetrical and with a
balanced game of light-dark shadows. The vegetal decoration, inspired by
Hellenistic ornaments, can be seen from the 1st until the 2nd century AD. The
oldest specimens appeared in Pompeii, usually in private buildings.
The decoration find similarities in the Corinthian style
capitals of Cadafais (Alenquer), Casa dos Bicos (Lisbon) and Santarém, and
although it may have been produced in a workshop in the Lisbon region, which
hypothetically would supply Felicitas Iulia Olisipo and the surrounding
territory, the Corinthian style capital of Setúbal can also be related to wider
commercial flows, from provincial workshops in the south of the Iberian
Peninsula that by sea and river or by land (Olisipo - Caetobriga - Salacia -
Ebora - Augusta Emerita) boosted the circulation of raw materials like Estremoz
marble or Sintra limestone, that were found in the province of Baetica in
cities such as Italica and Baelo Claudia, among others. Cards with models and
manufactured products may have been sold along the same routes. The value and
appreciation for the column capital of the Rua Vasco Soveral explain that its
owner had it restored on the broken part of one of the acanthus leaves of the
lower crown through a small metallic spike that shows an important part of the
piece biography.
Bibliografia | Bibliography
Soares, J.; Fernandes, L.; Tavares da Silva, C.; Pereira,
T.R.; Duarte, S.; Coelho-Soares, A. (2019) - Preexistências de Setúbal:
intervenção arqueológica na Rua Vasco Soveral 8-12. Ophiussa, 3, p. 155-183.
Peça da semana
J
Estela funerária de Ervidel II
Grande laje de xisto grauváquico com 1.75 m de altura,
0,59 m de largura e 0,23 m de espessura, decorada em uma das faces por
elementos que permitem integrá-la no grupo das estelas extremenhas, do Sudoeste
da Península Ibérica, pertencente ao final da Idade do Bronze. Foi encontrada
em posição secundária, na necrópole de cistas da Herdade de Pomar, freguesia de
Ervidel, concelho de Aljustrel.
A face decorada foi previamente preparada por bujardagem. As gravuras foram realizadas sobre esse fundo, por picotagem indirecta; ocupam cerca de três quartos do comprimento total do suporte. A composição organiza-se em três níveis:
− No centro, é figurado, com grande destaque, um escudo de chanfradura em V;
− Na parte superior, salienta-se um personagem fálico, muito estilizado. Esse personagem ostenta na cintura uma espada de lâmina em língua de carpa e sobre a cabeça, uma lança. Sobre o ombro esquerdo surge a representação de uma pinça e à sua frente, a de uma fíbula de cotovelo. Rodeando-o, podem ainda ver-se representações de um cão, espelho e pente. Objectos de prestígio similares têm sido encontrados em outros contextos, como o monumento da Roça do Casal do Meio, no concelho de Sesimbra, datado radiometricamente de meados do século XI a finais do século IX BC;
− No nível inferior da composição, surgem dois personagens (um deles fálico) em posição jacente, figurando mortos ou personagens subalternos relativamente à figura do guerreiro representado no registo superior. Este poderia corresponder a uma representação simbólica e heroicizada de um chefe local ou regional. A estela constitui um verdadeiro tratado de paleo-sociologia, ilustrando claramente o carácter estratificado das sociedades do Bronze final no Sudoeste da Península Ibérica.
A face decorada foi previamente preparada por bujardagem. As gravuras foram realizadas sobre esse fundo, por picotagem indirecta; ocupam cerca de três quartos do comprimento total do suporte. A composição organiza-se em três níveis:
− No centro, é figurado, com grande destaque, um escudo de chanfradura em V;
− Na parte superior, salienta-se um personagem fálico, muito estilizado. Esse personagem ostenta na cintura uma espada de lâmina em língua de carpa e sobre a cabeça, uma lança. Sobre o ombro esquerdo surge a representação de uma pinça e à sua frente, a de uma fíbula de cotovelo. Rodeando-o, podem ainda ver-se representações de um cão, espelho e pente. Objectos de prestígio similares têm sido encontrados em outros contextos, como o monumento da Roça do Casal do Meio, no concelho de Sesimbra, datado radiometricamente de meados do século XI a finais do século IX BC;
− No nível inferior da composição, surgem dois personagens (um deles fálico) em posição jacente, figurando mortos ou personagens subalternos relativamente à figura do guerreiro representado no registo superior. Este poderia corresponder a uma representação simbólica e heroicizada de um chefe local ou regional. A estela constitui um verdadeiro tratado de paleo-sociologia, ilustrando claramente o carácter estratificado das sociedades do Bronze final no Sudoeste da Península Ibérica.
J.S.
Funerary stele of Ervidel II
The funerary stele of Ervidel II, on greywacke-schist, is 1.75m x 0.59m x
0.23m. The symbolic elements engraved on one of its faces, link this monumental
artefact to the Extremadure group of the Southwestern Iberia grave stelae,
dating back, from the Late Bronze Age.
This stele has been found in a secondary position, in the necropolis of cistlike graves of Herdade de Pomar, Parish of Ervidel, Municipality of Aljustrel. The carved motives occupy almost three quarters of the total prepared area, and they are organized into three levels:
− In the centre, there is a highlighted representation of a V-notched shield;
− In the upper level, there is a phallic human figure, very stylized, probably representing a local chief surrounded by prestige items and weapons. That personage exhibits a sword of “língua de carpa” type at the waist. There is a spear above the head, and tweezers, above the left shoulder. At the front, there is a fibula. A dog, a mirror and a comb are lying below. Similar objects have been found in other contexts like the tomb of Roça do Casal do Meio, near Sesimbra, dated by radiocarbon from mid-11th century till the end of the 9th century BC.
− In the lower level, we can see, in a defeated position, two clearly devaluated human figures in comparison to the powerful warrior, represented on the top.
The stele of Ervidel II displays the power of a local or regional chief in a period in which social stratification emerged. Charismatic chiefs centralized the political power and became heroized leaders.
This stele has been found in a secondary position, in the necropolis of cistlike graves of Herdade de Pomar, Parish of Ervidel, Municipality of Aljustrel. The carved motives occupy almost three quarters of the total prepared area, and they are organized into three levels:
− In the centre, there is a highlighted representation of a V-notched shield;
− In the upper level, there is a phallic human figure, very stylized, probably representing a local chief surrounded by prestige items and weapons. That personage exhibits a sword of “língua de carpa” type at the waist. There is a spear above the head, and tweezers, above the left shoulder. At the front, there is a fibula. A dog, a mirror and a comb are lying below. Similar objects have been found in other contexts like the tomb of Roça do Casal do Meio, near Sesimbra, dated by radiocarbon from mid-11th century till the end of the 9th century BC.
− In the lower level, we can see, in a defeated position, two clearly devaluated human figures in comparison to the powerful warrior, represented on the top.
The stele of Ervidel II displays the power of a local or regional chief in a period in which social stratification emerged. Charismatic chiefs centralized the political power and became heroized leaders.
Gomes, M. V. ; Monteiro, J. P. (1976-77) – As estelas decoradas da Herdade de Pomar (Ervidel-Beja). Estudo comparado. Setúbal Arqueológica, II-III, p. 281-351.
Tavares da Silva, C.; Soares, J. (2006) – Territórios da Pré-história em Portugal. Setúbal e Alentejo Litoral. Tomar: Centro de Pré-história do Instituto Politécnico de Tomar.
Vilaça, R.; Cunha, E. (2005) – A Roça do Casal do Meio (Calhariz, Sesimbra). Novos contributos. Al madan, IIªS, 13, p. 48-57.
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