Notícia do falecimento

Faleceu Jorge Jesus Domingos Costa, ilustrador de Arqueologia e designer gráfico do Museu de Arqueologia e Etnografia do Distrito de Setúbal. O seu funeral será amanhã, dia 20 de Dezembro, pelas 10.00 horas, no Pinhal Novo.

Jorge Costa (1945-2010)
Ilustrador de Arqueologia e designer gráfico do maeds

Jorge Jesus Domingos Costa nasceu no dia 30 de Junho de 1945, no concelho de Palmela, freguesia do Pinhal Novo. O seu pai, Casimiro Domingos Costa, natural de Carvalhinho da Moita, e sua mãe, Virgínia de Jesus, natural de Beja, conheceram-se por intermédio do avô materno de Jorge Costa pois tinham em comum a profissão, ligada aos caminhos-de-ferro. As origens de Jorge Costa enraízam-se, assim, na própria génese do Pinhal Novo.

Jorge Costa fez o Curso Geral de Comércio em Setúbal e diversas formações complementares, tendo sido um dos primeiros especialistas profissionais no país em desenho arqueológico.

Desde muito cedo revelou grande criatividade e apetência para as artes. Participou em vários trabalhos de cenografia e publicidade (cinemas: Monumental, Tivoli, São Jorge, Éden, Condes, Politeama, Roma, Alfa, Londres, Quarteto, Satélite; teatros: Monumental, Trindade, São Luís e Maria Matos). Trabalhou também como decorador de interiores em Lisboa, Estoril e Porto, decorando montras, casas particulares, hóteis (Casino Estoril, Hotel Sheraton, Hotel Tivoli, Hotel Ritz, Hotel Palace, Casa do Leão), e estabelecimentos comerciais como Lanidor, Elarca, Loja das Meias, Tabaqueira, Casa José Alexandre, Adega do Teixeira, Solar do Vinho do Porto.

Entre 1973 e 1974 participou na montagem do Museu do Traje, em Lisboa. Foi nesta mesma época que a Directora do MAEDS, reconhecendo o seu excelente trabalho realizado no Museu do Traje, o convida a colaborar com o MAEDS, na montagem das salas de Arqueologia.

Em 1979, entra para o quadro do MAEDS, onde foi responsável pelas diversas montagens de exposições temporárias realizadas pelo Museu. A par desta função, vai desenvolvendo também o trabalho gráfico dos eventos de divulgação cultural do mesmo museu. Por esta altura, Jorge Costa já possuía um grande potencial teórico e experimental de desenho técnico, que mais tarde viria a ser dirigido para a ilustração arqueológica. Inicialmente fez uma intensa formação na área acima referida, orientada pelos arqueólogos Carlos Tavares da Silva e Joaquina Soares. A actual Exposição Permanente de Arqueologia do MAEDS, inaugurada em 2009, ficou ainda a dever, em muito, ao seu labor, quer através da produção de ilustração gráfica, de concepção de pianhas e suportes expositivos e do apoio incansável nos mais pequenos pormenores. Ele era o primeiro a chegar e o último a sair.

Durante os 30 anos de intenso trabalho no MAEDS, Jorge Costa participou com as suas ilustrações arqueológicas (desenho arquitectónico, estratigráfico e de artefactos líticos e cerâmicos) em mais de uma centena de intervenções arqueológicas realizadas em numerosas jazidas de que destacamos: as necrópoles da Idade do Bronze do Alentejo Litoral (Provença, Quitéria, Pessegueiro, Casas Velhas); os povoados neolíticos de Vale Vistoso, Vale Pincel, Salema, Montum de Baixo, Gaio, Ramalha; monumentos megalíticos; fortificações calcolíticas (Monte Novo, Monte da Tumba, Chibanes); porto romano da Ilha do Pessegueiro; largas dezenas de escavações arqueológicas na área urbana de Setúbal.

Colaborou também com desenhos arqueológicos em numerosos artigos científicos, publicados em Portugal e no exterior, bem como nas seguintes obras: ”Setúbal Arqueológica”, vols. I a XIII; “Musa. Museus, Arqueologia e Outros Patrimónios”, vols. I a III; “Pré-história da Área de Sines”; “Ilha do Pessegueiro. Porto Romano da Costa Alentejana”; “Os Hipogeus da Quinta do Anjo e as Economias do Simbólico”; “Património Arqueológico do Distrito de Setúbal”; “Arqueologia da Arrábida”, entre outros.

A par da sua vida profissional, Jorge Costa desenvolveu várias actividades lúdicas na sua comunidade (Pinhal Novo), onde foi, durante muitos anos, o principal animador da organização do Carnaval do Pinhal Novo, decorando os carros alegóricos, elaborando fatos e participando activamente nos desfiles carnavalescos. Outra das suas paixões foi a música erudita: melómano e executante de órgão de tubos em diversas ocasiões (missas, casamentos baptizados e outros).

 Jorge Jesus Domingos Costa aliou à competência e criatividade uma rara capacidade de dedicação ao serviço público, de partilha solidária com o próximo. Dotado de rara sensibilidade e de fino trato nas relações humanas, granjeou a amizade e respeito de muitas gerações de estudantes que participaram nas escavações arqueológicas, em acções de defesa do património e educação ambiental promovidas pelo MAEDS. Para os colegas, estava sempre disponível para colaborar, para explicar, até às vésperas do seu falecimento, que só ele sabia que ia acontecer.

Toda a sua vida foi pautada por grande humanismo. Não acumulou honrarias ou fortuna, deixando-nos, a 16 de Dezembro, uma estrela de esperança no futuro de uma Humanidade mais justa e fraterna.


2 comentários:

  1. Um abraço para todos os amigos do MAEDS.Sobre o Sr. Jorge subscrevo tudo o que foi dito apesar de só ter privado de perto com ele durante um ano.Só posso dizer que era uma jóia de pessoa.Lamento a sua partida da qual só tive conhecimento hoje.Cumprimentos
    José Manuel Janeiro

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  2. Um abraço e muito obrigada por tudo o que foi dito do Jorge.
    Como Sobrinha é interessante saber e descobrir o quão importante era ele para vós.
    Obrigada

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