Peça da semana


J
Estela funerária de Ervidel II

     Grande laje de xisto grauváquico com 1.75 m de altura, 0,59 m de largura e 0,23 m de espessura, decorada em uma das faces por elementos que permitem integrá-la no grupo das estelas extremenhas, do Sudoeste da Península Ibérica, pertencente ao final da Idade do Bronze. Foi encontrada em posição secundária, na necrópole de cistas da Herdade de Pomar, freguesia de Ervidel, concelho de Aljustrel.
     A face decorada foi previamente preparada por bujardagem. As gravuras foram realizadas sobre esse fundo, por picotagem indirecta; ocupam cerca de três quartos do comprimento total do suporte. A composição organiza-se em três níveis:
− No centro, é figurado, com grande destaque, um escudo de chanfradura em V;
− Na parte superior, salienta-se um personagem fálico, muito estilizado. Esse personagem ostenta na cintura uma espada de lâmina em língua de carpa e sobre a cabeça, uma lança. Sobre o ombro esquerdo surge a representação de uma pinça e à sua frente, a de uma fíbula de cotovelo. Rodeando-o, podem ainda ver-se representações de um cão, espelho e pente. Objectos de prestígio similares têm sido encontrados em outros contextos, como o monumento da Roça do Casal do Meio, no concelho de Sesimbra, datado radiometricamente de meados do século XI a finais do século IX BC;
− No nível inferior da composição, surgem dois personagens (um deles fálico) em posição jacente, figurando mortos ou personagens subalternos relativamente à figura do guerreiro representado no registo superior. Este poderia corresponder a uma representação simbólica e heroicizada de um chefe local ou regional. A estela constitui um verdadeiro tratado de paleo-sociologia, ilustrando claramente o carácter estratificado das sociedades do Bronze final no Sudoeste da Península Ibérica. 

J.S. 


Funerary stele of Ervidel II

The funerary stele of Ervidel II, on greywacke-schist, is 1.75m x 0.59m x 0.23m. The symbolic elements engraved on one of its faces, link this monumental artefact to the Extremadure group of the Southwestern Iberia grave stelae, dating back, from the Late Bronze Age.
   This stele has been found in a secondary position, in the necropolis of cistlike graves of Herdade de Pomar, Parish of Ervidel, Municipality of Aljustrel. The carved motives occupy almost three quarters of the total prepared area, and they are organized into three levels:
− In the centre, there is a highlighted representation of a V-notched shield;
− In the upper level, there is a phallic human figure, very stylized, probably representing a local chief surrounded by prestige items and weapons. That personage exhibits a sword of “língua de carpa” type at the waist. There is a spear above the head, and tweezers, above the left shoulder. At the front, there is a fibula. A dog, a mirror and a comb are lying below. Similar objects have been found in other contexts like the tomb of Roça do Casal do Meio, near Sesimbra, dated by radiocarbon from mid-11th century till the end of the 9th century BC.
− In the lower level, we can see, in a defeated position, two clearly devaluated human figures in comparison to the powerful warrior, represented on the top.
The stele of Ervidel II displays the power of a local or regional chief in a period in which social stratification emerged. Charismatic chiefs centralized the political power and became heroized leaders.

Bibliografia
Gomes, M. V. ; Monteiro, J. P. (1976-77) – As estelas decoradas da Herdade de Pomar (Ervidel-Beja). Estudo comparado. Setúbal Arqueológica, II-III, p. 281-351.
Tavares da Silva, C.; Soares, J. (2006) – Territórios da Pré-história em Portugal. Setúbal e Alentejo Litoral. Tomar: Centro de Pré-história do Instituto Politécnico de Tomar.
Vilaça, R.; Cunha, E. (2005) – A Roça do Casal do Meio (Calhariz, Sesimbra). Novos contributos. Al madan, IIªS, 13, p. 48-57.

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Estela epigrafada

I Idade do Ferro - Cerca do Curralão. Descoberta em 1979, a estela funerária procedente da Cerca do Curralão em Almodôvar, apresenta texto dextrorso embora disposto em boustrophedon, onde se reconhecem dezassete letras completas e oito incompletas, constituindo fórmula funerária, possivelmente formada por seis palavras. Estas corresponderão a nome próprio, etnónimo menor, patronímico, cognome ou gamonímico e a etnónimo maior, usado como origónomo.
Aquele último presente em 60% das estelas funerárias da I Idade do Ferro do Sudoeste Peninsular, indica povo, com origem minorasiática, mencionado por diversos autores da Antiguidade como habitando territórios do hoje Baixo Alentejo e Algarve.
O estudo das epígrafes referidas, permite concluir que a escrita dita do Sudoeste Peninsular é alfabética e expressa língua indo-europeia, que usou sete vogais e apresenta bom número de características fonéticas e gráficas, permitindo integrá-la na grande família das escritas e das línguas gregas arcaicas, com maior diversidade na Ásia Menor.

Mário Varela Gomes

The funerary stele from Cerca do Curralão in Almodôvar, discovered in 1979, displays dextrorse text although it is written boustrophedon. Seventeen fully formed letters and eight partly formed letters can be recognised.
They constitute a funerary formula, possibly made up of six words which would correspond to the name, minor ethnonym, patronym, cognomen or gamonymic and the major ethnonym, used as the native name.
The latter is present in 60% of the funerary stelae dating from the first Iron Age in the Peninsular Southwest. It indicates a people of Asia Minor origin who are mentioned by several authors from Antiquity as inhabiting the territories of what is today the Baixo Alentejo and Algarve.
The study of these epigraphs allows us to conclude that the writing termed Peninsula Southwestern is alphabetic, expresses an Indo- European language and used seven vowels. It displays a good number of phonetic and graphic characteristics, thereby allowing us to integrate it within the large family of archaic Greek writing systems and languages with the greatest diversity being found in Asia Minor.

Mário Varela Gomes


Está disponível o volume IV, já esgotado, da revista "Setúbal Arqueológica". Pode consultar todos os artigos aqui: http://maeds.amrs.pt/setubalarqueologica4.html



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